2016, mais um ano de petróleo barato
Excesso de oferta ainda não pode ser
absorvido pela fraca demanda
2015 passará à
posteridade como um dos exercícios mais conturbados da série histórica no
mercado petroleiro. A menos de duas semanas do fim do ano, o impulso de uma
oferta que não para de crescer e a demanda ainda fraca, que aumenta a um ritmo
muito menor do que em recuperações econômicas anteriores, encheu os estoques de
petróleo em todo o mundo a máximos históricos e levou os preços ao nível mais baixo desde
dezembro de 2008, no início da grande recessão. Todas as perguntas
continuam sem resposta para um 2016 que se apresenta como um dos exercícios
mais imprevisíveis. Mas, se em alguma coisa concorda a maioria dos analistas, é
que o petróleo bruto
permanecerá todo o ano próximo em níveis historicamente baratos, muito longe
dos quase 127 dólares do início de 2011.
As seis últimas empresas de análise
que fizeram previsões sobre o Brent, o barril de referência na Europa, situam a
faixa de preços para 2016 entre os 41 dólares do banco australiano Westpac –
10% acima do preço atual, mas menos da metade do preço médio dos últimos cinco
anos – e os 60 dólares do Barclays. No meio do caminho ficam as previsões do
Wells Fargo (49 dólares por barril), Unicredit (52,5) e da Société Générale
(54). Todas elas ficam longe do máximo do último quinquênio, de 126,65 dólares
no final de 2011.
As previsões dos
analistas para o ano que vem oscilam entre 40 e 60 dólares por barril
À espera do quadro
de preços previstos pelo cartel da OPEP, a ser
divulgado na quarta-feira, a Rússia, um dos principais produtores mundiais não
pertencentes à organização, tampouco vê o petróleo bruto acima dos 50 dólares.
E a agência de qualificação Moody's não contempla um Brent acima dos 43
dólares, 10 abaixo de sua previsão anterior.
MAIS INFORMAÇÕES
Segundo um estudo
publicado nesta semana pela Bloomberg, apesar de o novo
normal do Texas norte-americano estar em 35 dólares por barril, são muitos os países
que se veem levados a vender a preços ainda mais baixos: uma mistura de
petróleos brutos mexicanos mais difícil de refinar já é cotada no mercado a
menos de 28 dólares por barril, o valor mais baixo em 11 anos; o Iraque já está
colocando parte de sua produção em outros países asiáticos a 25 dólares e no
Canadá, junto com a Noruega ,o país ocidental mais
atingido pelo terremoto que sacudiu o
tabuleiro de preços, alguns produtores da costa oeste já vendem o barril a
menos de 22 dólares. Esse preço fica perto da previsão de 20 dólares por barril
com que o banco de investimento norte-americano Goldman Sachs soltou em meados
de setembro e rompe qualquer paradigma do mercado petroleiro. “Mais de um terço
da produção global está sendo cotada abaixo do preço do Brent e do Texas”,
ressaltava Ehsan Ul-Haq, consultor do KBC Advanced Technologies, em declarações
à citada agência norte-americana.
Os analistas não consideram provável,
em curto prazo, o reequilíbrio entre oferta e demanda. No ano que vem a
superoferta mundial será de 580.000 barris diários, segundo os últimos cálculos
do Goldman Sachs. “Os estoques continuam crescendo”, aponta Damien Courvalin,
do banco de investimento norte-americano. “O desequilíbrio se prolongará até
depois de 2016”, sustentam os analistas do Moody's em seu relatório anual sobre
o petróleo, que coincide com o ponto de vista da Agência Internacional de
Energia (AIE), o braço da OCDE para assuntos energéticos.
“Os Governos de muitos países
produtores subvencionam os produtos petrolíferos, que por isso tinham em seus
mercados internos um valor mais baixo que o do mercado internacional. O
barateamento do petróleo bruto acarretou o desaparecimento dessas subvenções,
mas não uma variação do preço para o consumidor final, pois não chegou a
estimular a demanda”, diz Alberto Martín, sócio responsável por Energia da KPMG
na Espanha.
Mais cedo ou mais
tarde, a redução dos investimentos em novos projetos ou em projetos menos
rentáveis levará inevitavelmente a uma redução da produção. Esse cenário, no
entanto, não surgirá no ano que vem, em que praticamente ninguém espera uma
ação coletiva da OPEP e outros países produtores para equilibrar as forças e
estabilizar os preços. “A queda no preço do petróleo bruto acelerará o reequilíbrio
entre oferta e demanda, mas será preciso esperar até 2019 para que o mercado
reabsorva as reservas acumuladas”, explica Shigeki Matsumoto, do banco japonês
Nomura em nota enviada a clientes em que se aponta o Irã como principal
catalisador da oferta mundial. “Compensará a queda na produção dos países que
não estão na OPEP”, explica, em referência implícita aos Estados Unidos, que vê
o milagre do fracking começar a perder força no nível de preços
atual.
A volta do Irã ao
mercado petrolífero internacional coloca ainda mais pressão sobre a cotação do
petróleo bruto
Os efeitos da irrupção da República Islâmica
no mapa petroleiro globalcomeçarão a se fazer sentir em meados do
ano que vem, segundo todas as estimativas. O Governo iraniano voltou a
assegurar na segunda-feira que, quando as sanções forem levantadas, voltará a
exportar “seja qual for” o preço do petróleo bruto.
Spencer Welch,
chefe do departamento de análise de mercados petroleiros da consultora IHS
Energy, é o único dos analistas consultados que confia no reequilíbrio de
forças para meados de 2016. O crescimento da demanda (1,2 milhão de barris por
dia em 2019, segundo as estimativas da AIE) virá junto com uma redução da
oferta: “Por um lado era fundamental ver como atuaria a OPEP. Dado que, em sua
última reunião, decidiu não alterar sua estratégia, os focos estão agora sobre
os Estados Unidos”, explica por telefone. Em abril do ano passado, o país norte-americano,
maior produtor mundial graças ao frackingproduzia 9,6
milhões de barris diários, 500.000 a mais que agora. “Em junho de 2016 essa
cifra baixará para 8,7 milhões de barris, quase um milhão a menos que em
abril”.
Welch observa, ainda, que muitas
empresas norte-americanas que extraem petróleo com técnicas não convencionais
conseguiram melhorar sua eficiência, ao ponto de continuar sendo rentável para elas
extrair com o barril entre 35 e 40 dólares, mas considera que seu elevado nível
de endividamento atuará como freio. Também vê no Irã um fator essencial – “é a
única variável que poderia alterar esse processo de ajuste” –, mas atenua: “O
acordo com as potências ocidentais parece bem encaminhado, entretanto quando as
sanções forem levantadas, a reativação dos poços iranianos não será imediata”,
afirma.