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quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

Zika Virus e Brasil



Especialista sobre o zika vírus: ‘Não devemos falar em pânico, mas em precaução’


 A médica chinesa Margaret Chan, diretora da Organização Mundial da Saúde (OMS), está no Brasil. A convite do Governo brasileiro, veio se inteirar das iniciativas adotadas no país para o combate ao mosquito Aedes Aegypti, transmissor da dengue, da febre chikungunya e do zika vírus. Médico recomenda precaução mas sem pânico.






Margaret Chan, que esteve em Brasília, Pernambuco (o Estado mais atingido pelos casos de microcefalia, supostamente causados pelo zika vírus) e Rio de Janeiro, não poupou elogios, afirmando jamais haver visto tamanha determinação num Governo para o combate ao mosquito transmissor de tantas doenças.



O médico Antônio Braga, professor de Obstetrícia das Faculdades de Medicina das Universidades Federal Fluminense e Federal do Rio de Janeiro, endossa as palavras da diretora da OMS e diz que o Brasil está obtendo grandes avanços nas pesquisas para o tratamento das doenças e transtornos causados pelo zika vírus.

“Desde a implementação do SUS – Sistema Único de Saúde, a área de vigilância e controle de endemias e epidemias, de grandes surtos e doenças de notificação, tem propiciado ao Brasil forte e interessantes indicadores que permitem modular as políticas de saúde pública em nosso país”, afirma o Dr. Braga. “Não seria de outra forma que relatos surgidos no Nordeste, mais especificamente no Estado de Pernambuco, permitiram que um alerta nacional fosse emitido a fim de que se monitorassem os casos de recém-nascidos com microcefalia e se aprofundasse a discussão acerca da relação entre a infecção do zika vírus na gravidez e o surgimento de conceptos com malformações neonatais.”

 © AFP 2016/ Ernesto Benavides

Sobre a questão de o zika vírus estar provocando pânico na população, Antônio Braga diz que “é importante salientar que não devemos falar em pânico, mas em precaução. Parece muito lógico que as mulheres grávidas queiram se prevenir da picada do mosquito Aedes Aegypti, não apenas para evitar a já conhecida infecção da dengue, que muito mal causa às grávidas, mas também a febre chikungunya e agora a questão do zika vírus”.

Segundo o médico Antônio Braga, é importante que haja essa prevenção, e “o uso de repelentes é uma ferramenta da maior importância nessa estratégia”.
“É claro que, como vivemos numa economia de mercado, certamente aproveitadores sem sensibilidade social estão inflacionando o preço dos repelentes, fazendo com que haja até um mercado especulativo e que não se restringe apenas às farmácias. Hoje existem até negociações online de grandes grupos de venda pela internet, que especulam e aumentam muitas vezes o preço desses produtos.”

O Dr. Antônio Braga adverte, também, para o surgimento de produtos caseiros ou de formulações ditas “piratas” que não têm selo nem de qualidade nem de eficácia, sendo popularmente recomendados pela internet e que muitas vezes não conferem a proteção indicada. “Alguns desses produtos sem o menor controle podem, inclusive, carrear substâncias tóxicas que prejudiquem não apenas as gestantes como também os seus fetos.”

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

Corrupção, doença do mundo



A Justiça sozinha não vai acabar com a corrupção
Germano Luders/Exame 


 Zingales: “Atuar em favor de algumas empresas é diferente de dar a todas oportunidades iguais”



São Paulo — O economista italiano Luigi Zingales, de 52 anos, construiu boa parte de sua carreira acadêmica nos Estados Unidos. Mas foram a infância e a juventude na Itália que ajudaram a moldar sua visão sobre o que chama de capitalismo de compadrio.

A referência de sua terra natal era de um modelo corrupto que beneficiava aqueles que estavam próximos ao poder e que tirava a competitividade da economia. Professor da Universidade de Chicago, Zingales é considerado um dos mais renomados estudiosos das relações perniciosas entre governos e o mundo corporativo.

Para ele, as recentes investigações anticorrupção no Brasil devem ajudar o país a aprimorar seu modelo de capitalismo — atualmente não muito diferente do italiano. Mas alerta que o combate à corrupção precisa ser feito em múltiplas frentes.

“A Justiça é importante, mas não resolve o problema sozinha. A desburocratização da economia é crucial nesse processo.” Em um evento recente no Instituto Fernand Braudel de Economia Mundial, em São Paulo, Zingales concedeu a entrevista a seguir.

Exame - Está em curso uma das maiores investigações contra a corrupção no Brasil, a Operação Lava-Jato. Qual deveria ser o legado desse tipo de iniciativa?
Zingales - Este é um momento crucial para aprimorar o capitalismo brasileiro. Estou impressionado com a efetividade e a independência dos procuradores brasileiros envolvidos nessa investigação. No entanto, temo que o processo possa ser paralisado em algum momento. Hoje, a população apoia os procuradores e os juízes, pois eles estão prendendo gente rica e poderosa.
Mas, em sociedades em que a corrupção é muito difusa, a questão é se essas investigações chegarão ao limite extremo, alcançando as pessoas comuns. Foi isso o que ocorreu na Itália, com a Operação Mãos Limpas nos anos 90. Infelizmente, lá o processo foi interrompido.

Exame - E por que não deu certo?
Zingales - À medida que as investigações da operação avançavam (mais de 6 000 pessoas foram investigadas e 800 acabaram presas), muitos italianos começaram a se sentir acuados. A economia também estava paralisada. Foi nesse momento que se popularizou a figura de Silvio Berlusconi, que desmantelou a operação quando chegou ao cargo de primeiro-ministro.

Exame - E como isso pode ser evitado?
Zingales - Minha percepção sobre o Brasil é que, assim como na Itália, todo mundo comete algum tipo de ilegalidade. Isso porque é muito difícil se manter legal num sistema extremamente burocrático.
Haverá um momento em que vai se disseminar a ideia de que se todo mundo é culpado, logo, ninguém é culpado. E esse é um momento importante que não chegou ainda ao Brasil, mas vai acontecer e determinará qual caminho o país quer adotar no futuro.

Exame - Qual deveria ser esse caminho?
Zingales - Uma vez que tantas pessoas violam a lei, há duas formas de lidar com isso. Uma é encobrir a apuração de irregularidades — esse é o jeito Berlusconi. A outra é seguir adiante tendo como base um novo marco. Poderia haver algum tipo de anistia quando ocorresse voluntariamente a confissão de crimes.
Nos casos que envolvem funcionários públicos e políticos, é importante o afastamento do exercício do cargo.Seria uma tentativa de passar a limpo as irregularidades, por menores que sejam. Mas, depois disso, o processo deveria ser implacável. Deixar no passado o que aconteceu de errado não significa perdoar o que foi feito, mas também não pode ser uma forma de travar o futuro.

Exame - Quais países conseguiram fazer isso de forma democrática?
Zingales - No início do século 20, os Estados Unidos eram um país extremamente corrupto. Naquela época, o que fez a diferença foi uma combinação de fatores como a pressão por padrões morais mais altos, o Judiciário eficiente e um presidente como Franklin Roosevelt, que queria mudanças.
A imprensa teve papel importante ao longo do tempo. Obviamente ainda há corrupção nos Estados Unidos. Mais recentemente, o capitalismo americano tem sofrido com a proximidade excessiva entre o poder público e as grandes empresas.

Exame - Quanto maior o tamanho do Estado, maior é a chance de haver corrupção?
Zingales - A corrupção se propaga onde há burocracia. E não existe um ambiente em que mais se difunde a corrupção do que o trabalho que envolve funcionários públicos. É importante, no entanto, fazer a distinção entre promover o bem-estar social e o gasto público que apenas aumenta a participação do Estado na economia.
A Dinamarca e a Suécia, por exemplo, gastam muito com bem-estar social, mas não são países com grande número de funcionários públicos e não têm estatais gigantescas.
Meu conselho para o Estado no Brasil: caia fora das atividades industriais, mantenha um sistema que gere os benefícios sociais o mais automatizado possível e foque numa estrutura de administração pública enxuta e eficiente. Isso não se faz do dia para a noite. Leva tempo — talvez, uns 30 anos.

Exame - A interferência do Estado brasileiro na economia cresceu muito nos últimos anos. Qual deve ser o papel dos governos na economia?
Zingales - É preciso focar no básico, como dar educação de qualidade para as crianças, garantir que as leis sejam respeitadas e mandar para a cadeia quem comete um crime. Se o governo não consegue fazer o básico, como vai ser capaz de fazer direito uma política industrial?

Exame - O que o Brasil precisa fazer para voltar a crescer novamente?
Zingales - No Brasil, o termo capitalismo é percebido como algo ruim. Isso porque as pessoas experimentaram apenas o capitalismo corrupto. Para elas, a alternativa seria tentar desde uma forma mais branda de socialismo até uma versão mais agressiva, à la Chávez, na Venezuela.
O Brasil precisa de políticos com uma orientação pró-mercado, o que não é o mesmo que pró-empresas, o capitalismo de compadrio. Uma coisa é atuar em favor de algumas empresas. Outra é permitir que todas tenham as mesmas oportunidades de prosperar. Isso vai incentivar a inovação e tornar o país mais competitivo.

Exame - Corre no Congresso Nacional um pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff. Como o senhor avalia um possível afastamento da presidente?
Zingales - Um processo de impeachment é traumático, mas é importante para consolidar a democracia de um país, pois fica claro que ninguém está acima da lei — nem a presidente. É preciso haver elementos concretos para seu afastamento. Sendo assim, creio que vai ser positivo para o país.
Mas isso não significa que o jeito de fazer política terá mudado. O Brasil precisa desesperadamente de uma elite política comprometida com novos valores — e não agarrada à ideia de se manter no poder. O impeachment sozinho não muda as coisas. Se a saída de Dilma for apenas para favorecer X ou Y, não terá servido para nada.
 

terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

A Rússia quer o Polo Norte



Rússia se aproxima do Polo Norte
© Sputnik/ Valery Melnikov
13:45 09.02.2016URL curta
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Nesta terça-feira (9), a Rússia irá apresentar à ONU o seu pedido renovado de ampliação das fronteiras sua da plataforma ártica no oceano Glacial Ártico. O pedido vem coroar uns 15 anos de pesquisa e grandes esperanças.










Quem vai apresentar o pedido é o próprio ministro dos Recursos Naturais e Meio Ambiente da Federação da Rússia, Sergei Donskoi. Na segunda-feira da semana em curso, ele tinha afirmado que Moscou não vê fatores que possam fazer as Nações Unidas rejeitar o pedido russo.

Contudo, o ministro não excluíu a possibilidade de um compromisso que poderia "aumentar ou reduzir" a área contida dentro das fronteiras futuras.

Em 2001, a Rússia apresentou o seu primeiro pedido correspondente, que visava obter reconhecimento internacional do direito russo sobre uma parte da plataforma continental que inclui a cordilheira de Lomonosov, a bacia dos Megulhadores (Podvodnikov) e a dorsal de Mendeleev, além de outros locais subaquáticos. Mas naquela altura, o pedido foi rejeitado por falta de provas científicas.

E começou um largo processo de obtenção dessas provas, que abrangia conferências e pesquisas científicas. Em meados de 2015, o ministro Donskoi anunciou a próxima apresentação do pedido.

Segundo as estimativas científicas, se o pedido for aceite pela ONU, isso significará, para a Rússia, um acréscimo de cerca de 1,2 milhões de quilômetros quadrados. Este território guarda 4,9 bilhões de toneladas de combustível. Cerca de 30% das reservas não exploradas de gás natural do planeta e 15% das de petróleo podem ficar no fundo desta zona do Ártico, reivindicada pela Rússia.

Outro item também caro à Rússia é a Rota Marítima do Norte, que também passa por estas alturas polares.

 © Sputnik/ Valery Melnikov
Povoado Dikson, situado na costa do mar de Kara

Devido ao tamanho do pedido e informações a serem examinadas pela comissão correspondente (composta por sete pessoas), vários especialistas estimam que o exame do mesmo pode demorar vários anos.

A comissão ampliada já recebeu 77 pedidos e analisou 22 deles. Esta comissão ampliada tem representantes da Argentina, Brasil, Camarões, Canadá, China, Coreia do Sul, Croácia, Dinamarca, Gana, Índia, Japão, Malásia, México, Moçambique, Paquistão, Polônia, Quênia e Trindade e Tobago.