Por que
Rússia reequipa a Força Aérea síria?
Dentro em pouco o parque de
equipamentos militares sírio será completado com aviões russos modernizados.
© AFP
2016/ Karam Al-Masri
A Força Aérea síria recebeu de fabricantes russos
seus primeiros aviões Sukhoi Su-24M2 modernizados
capazes de funcionar em quaisquer condições climáticas. De acordo com
relatórios da mídia, estes aviões estão previstos para melhorar
as capacidades da Força Aérea da Síria na luta contra terrorismo, no
entanto, segundo os especialistas, Moscou e Damasco têm seus próprios motivos.
Segundo a edição Al-Masdar News, em
complemento dos dois aviões já recebidos, Síria espera mais oito aeronaves no
futuro mais próximo. Os aviões, conforme foi dito foram reequipados "para
aperfeiçoar suas capacidades e melhorar a eficiência em combate",
inclusive aviônica melhorada, com GPS e GLONASS, e uma nova tela HUD (Heads Up
Display).
Comentando a notícia, o colunista
Anton Mardasov da edição Svobodnaya Pressa escreveu
que "à primeira vista, não há nada de incomum nesta notícia: enfraquecidos
por anos de guerra, o parque da Força Aérea Síria precisa de reequipamento
urgente. Apenas no mês passado, o esforço contra os Islâmicos resultou na perda
de dois dos seus aviões".
"E se a lógica por trás
desta etapa reside em mais do que apenas o reequipamento da Força Aérea
Síria?", perguntou o jornalista. "Quando se coloca esta notícia em
todo o contexto do que está acontecendo na Síria, começa ficando a impressão de
que o governo russo, com a entrega destes bombardeiros à Síria, está dando um
passo bem pensado".
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REUTERS/ Hosam Katan/File Photo
"Julguem por vocês mesmos", Mardasov
sugeriu: "Em 26 de julho, depois de uma reunião com o ministro das Relações
Exteriores russo, Sergei Lavrov, o secretário de Estado dos EUA,
John Kerry, falou de progresso nas negociações sobre a Síria. Em particular,
[falou] de coordenação nos ataques aéreos contra o Daesh [grupo terrorista
proibido na Rússia] e a Frente al-Nusra e simultaneamente o fim dos bombardeios
contra insurgentes 'moderados'. No entanto, estes ‘moderados’ não deixaram
as linhas de frente e continuam lutando contra Assad e seu exército. Se
Moscou está do lado de Damasco, ele tem a obrigação de ajudá-lo a repelir esses
ataques. Parece que a pressão de Washington nos tem forçado a nos afastarmos,
mas e se isso for apenas uma formalidade?"
O cerne da questão, de acordo com
o jornalista, é que pouco importa se é a Força Aeroespacial russa que
bombardeia, ou se é a Força Aérea Síria a fazê-lo. "Que diferença tem se é
o piloto russo ou o sírio que está no controle do Su-24? O principal é que
as bombas caiam sobre os alvos designados".
Solicitado a comentar a entrega
dos Su-24M2, o especialista militar Yakov Kedmi, um ex-alto funcionário dos
serviços de inteligência israelenses, disse à Svobodnaya Pressa, que a entrega
foi planejada há muito tempo.
"Depois que a Rússia se
envolveu ativamente no conflito sírio, Moscou, também iniciou, simultaneamente,
suas atividades para restaurar as Forças Armadas sírias, em primeiro lugar
a Força Aérea síria. Isso inclui a modernização dos Su-24MK". A decisão
sobre o número de aviões, de acordo com Kedmi, tem que ver com o número que a
Força Aérea síria é atualmente capaz de absorver.
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Sputnik/ Igor Zarembo
"Naturalmente, uma cooperação mais estreita
entre aeronaves e veículos blindados, artilharia e infantaria exige que os
pilotos falem a língua local e estejam familiarizados com as táticas das
unidades nacionais. [Portanto], como eu entendo, a Rússia vai continuar
fornecendo armas novos e modernizadas ao exército sírio. E isso vai continuar,
independentemente das negociações com os Estados Unidos", concluiu Kedmi.
Por sua parte, Semyon Bagdasarov,
diretor do Centro para o Estudo do Oriente Médio e da Ásia Central, não
acredita que as entregas não ajudem a reforçar o potencial do exército
sírio, inclusive na sua luta contra os jihadistas "moderados".
Finalmente, por sua parte, Sergei
Balmasov, um especialista do Instituto para os Estudos de Médio Oriente em
Moscou, destacou que Moscou deve ter cuidado para não ignorar completamente os
interesses de Washington na Síria.
"Continua sendo necessário,
de uma forma ou de outra, coordenar a nossa atividade com os americanos, de
modo a não ultrapassar uma espécie de 'linha vermelha'".
"Além disso", Balmasov
observou, "é importante preservar a possibilidade de um diálogo político
com os EUA, e o conflito Sírio é um dos poucos tópicos de que podemos
falar". Em última análise, observou o analista, lutar contra a chamada
oposição moderada Síria "é necessário, mas somos forçados a tentar andar
por fora das linhas desenhadas por Washington". Caso contrário, os EUA podem
trabalhar ainda mais para intensificar a pressão política e militar sobre
Damasco e Moscou.
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